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Eritrocitaférese como modalidade terapêutica na anemia falciforme – Experiência de centro único

A eritrocitaférese pode ser uma terapia segura e efetiva para pacientes com anemia falciforme em países em desenvolvimento.

Por Germano Glauber de Medeiros Lima

A doença falciforme é uma das doenças monogênicas graves mais comuns, resultante de mutação pontual de um único par de bases na cadeia β da hemoglobina, resultando na produção de hemoglobina S (HbS) anormal. Em muitos países em desenvolvimento, onde a doença é comum, a anemia falciforme representa cada vez mais um grande fardo para a saúde pública, onde a mortalidade infantil pela doença ainda é elevada, um fato que é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O objetivo do tratamento de pacientes com doença falciforme é o controle dos sintomas com detecção e tratamento precoces de complicações, mais comumente em sistemas nervoso central (SNC), cardiovascular, pulmonar e renal. A transfusão crônica é um dos poucos meios eficazes para tratar ou prevenir complicações multissistêmicas nesta doença. Suporte tranfusional com hemácias de urgência é frequentemente necessário para anemia súbita e grave devido a sequestro esplênico agudo, infecção por parvovírus B19 ou crises de hiperhemólise.

Transfusões regulares de sangue são usadas para tratamento primário e prevenção secundária de AVC em crianças. A despeito de seus benefícios, a sobrecarga de ferro inevitavelmente se desenvolve e pode resultar em problemas cardíacos, insuficiência hepática e várias outras complicações. A eritrocitaférese promove uma troca sanguínea automatizada, possibilitando uma ajuste para atingir uma carga mínima de ferro, principalmente ao modular o hematócrito alvo pós-troca. Esta modalidade pode reduzir ainda mais a carga de ferro quando comparada com transfusões simples.

Foi realizado um estudo prospectivo, não randomizado e aberto, de iniciativa do investigador, em um único centro no Egito. Seu objetivo foi descrever o uso da eritrocitaférese para pacientes com doença falciforme como um método para melhorar o padrão de atendimento, destacando seus benefícios e desafios. Pacientes elegíveis foram aqueles que tiveram acidente vascular cerebral, doppler transcraniano (DTC) anormal ou outras indicações (síndromes torácicas agudas de repetição, por exemplo), os quais foram submetidos a um programa regular de eritrocitaféreses automatizadas.

Entre 18 de dezembro de 2017 e 17 de dezembro de 2022, 21 indivíduos foram incluídos, com um total de 133 sessões realizadas. Todas as sessões mantiveram status isovolumétrico e foram realizadas por acesso venoso central. A maioria das sessões transcorreram sem problemas, sem nenhum evento adverso (n = 81, 60,9%), exceto por certos desafios como falta de estoque de sangue necessário (n = 38), hipotensão (n = 2) e hipocalcemia (n = 2).

Os autores do trabalho concluíram que a eritrocitaférese automatizada, a despeito de demandar recursos e pessoas qualificadas para seu adequado funcionamento, é uma modalidade segura e eficaz para o manejo de pacientes com doença falciforme, podendo ser uma boa alternativa a ser utilizada em países onde não há acesso universal a novas drogas para tratamento da anemia falciforme ou ao transplante alogênico de medula óssea com intenção curativa. Estudos com maior número de pacientes, randomizados e com braço comparador ainda são necessários para avaliar se a eritrocitaférese é custo efetiva em larga escala.

Referência:

  • Ebeid F. S. E. (2023). The implementation of automated red blood cell exchange (erythrocytapheresis) as a treatment modality in sickle cell disease patients: Single center experience. Transfusion and apheresis science : official journal of the World Apheresis Association : official journal of the European Society for Haemapheresis, 62(4), 103719. https://doi.org/10.1016/j.transci.2023.103719
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