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Novas Perspectivas na Profilaxia da Hemofilia A Adquirida: Resultados de Eficácia do Emicizumabe no estudo AGEHA

Estudo descritivo AGEHA revela redução significativa de sangramentos e melhora na qualidade de vida em pacientes com Hemofilia A Adquirida

Escrito por: Samara Alves

Revisado por: Guareide Carelli

Um estudo conduzido com o anticorpo monoclonal emicizumabe propõe uma nova abordagem profilática eficaz para pacientes com Hemofilia A Adquirida (HAA), uma doença autoimune potencialmente letal que prejudica a coagulação sanguínea, resultando em sangramentos prolongados que podem ocorrer na pele, músculos e articulações. A Hemofilia A é causada pela ausência ou diminuição dos níveis da proteína de coagulação conhecida como fator VIII (FVIII), podendo ou não ser acompanhada de inibidores de FVIII. Quando a condição é adquirida, o que ocorre mais frequentemente em adultos e idosos, surgem autoanticorpos contra o FVIII, reduzindo sua eficácia na coagulação. 

O tratamento convencional para HAA compreende a Terapia com Imunossupressores (TIS), visando eliminar os inibidores de FVIII, sendo iniciado logo após o diagnóstico da doença. Embora a TIS leve à remissão da doença, a susceptibilidade do sistema imunológico pode causar infecções graves e até mesmo a morte. Para controlar eventos hemorrágicos agudos, recorre-se ao fator VII ativado recombinante (FVIIa-r) ou agentes de bypass, assim chamados porque agem independente da via de coagulação deficiente. Embora ainda sem muita indicação para HAA, o emicizumabe é empregado na profilaxia de pacientes com Hemofilia A Congênita (HAC) porque sua estrutura específica dupla conecta dois fatores importantes no processo de coagulação (fator IXa e fator X), imitando a ação do FVIII e regulando a hemostasia.

O estudo AGEHA, divulgado no Journal of Thrombosis and Haemostasis, é um estudo de fase III multicêntrico, aberto, prospectivo e descritivo, que avaliou a eficácia, segurança e farmacocinética do emicizumabe em 12 pacientes com HAA, com idade 18 anos (média de idade de 76 anos). Os pacientes apresentavam histórico de hemorragias relacionadas a HAA, atividade de FVIII < 50 IU/dL e inibidor FVIII 0,6 BU/mL. Um grupo de pacientes estava em TIS e outro grupo não era elegível a TIS. No primeiro dia, os pacientes receberam uma dose subcutânea de 6 mg/kg de emicizumabe, seguida de 3 mg/kg no segundo dia (dose de carga), e 1,5 mg/kg uma vez por semana a partir do oitavo dia (dose de manutenção). Diferentemente de estudos anteriores em HAC, nos quais a dose de carga foi administrada em quatro semanas, o AGEHA adotou um período de duas semanas para que o efeito do emicizumabe fosse maximizado. A conclusão do tratamento ocorreu quando dois critérios foram atendidos: a atividade do FVIII estava acima de 50 UI/dL e haviam se passado mais de 72 horas desde o último uso de produtos de coagulação para tratar sangramentos. Os pacientes seguiram para um período de acompanhamento de segurança de 24 semanas. A TIS consistia em prednisona ou prednisona mais ciclofosfamida (tratamento de primeira linha) e nenhum uso profilático de produtos de fator de coagulação foi permitido. 

Os resultados obtidos destacam que a profilaxia empregando emicizumabe proporcionou redução tanto na frequência quanto na intensidade dos sangramentos, no uso de agentes de bypass, na necessidade de transfusões e atrasou ou reduziu a intensidade de TIS. Dos 11 pacientes que completaram o estudo, em 10 a intensidade da TIS diminuiu ao término do tratamento com emicizumabe, comparado ao primeiro dia do tratamento. Notavelmente, a estabilidade da concentração plasmática do emicizumabe foi alcançada em apenas uma semana (em contraste com as quatro semanas necessárias em regimes de dosagem para HAC), alcançando níveis de eficácia estabelecido para pacientes com HAC (>30 μg/mL). Após a administração do emicizumabe, nenhum paciente apresentou sangramento significativo e a maioria não apresentou sangramento tratável após a dose. Além disso, a maioria dos pacientes com baixos níveis de hemoglobina no início do estudo mostrou tendência à melhora nesses níveis até a conclusão do tratamento com emicizumabe.

O emicizumabe foi bem tolerado, sem a identificação de novos riscos de segurança clinicamente relevantes. Não houve ocorrência de sangramentos graves ou doenças infecciosas com desfecho fatal durante o estudo. Um único paciente, com ECOG-PS classificado como 4 no início do estudo veio a falecer devido à exacerbação de doença renal crônica. Embora tenha sido relatado um evento de trombose venosa profunda (assintomático, não grave, grau 1), nenhum outro evento tromboembólico foi observado nos demais pacientes. Os autores ressaltam que o risco de hipercoagulação pode ser minimizado através do monitoramento regular do potencial de coagulação e pelo encerramento adequado da administração do emicizumabe. 

Embora o estudo AGEHA apresente diversas limitações, como a ausência de um grupo comparativo, a falta de testes estatísticos, o tamanho limitado da amostra, a coleta retrospectiva de dados de referência, além da influência da TIS, seus resultados sugerem que o emicizumabe pode ser empregado como abordagem profilática para 

pacientes com Hemofilia A adquirida. Essa abordagem pode ser eficaz na prevenção de sangramento clinicamente relevante e reduzindo a carga de tratamento em comparação com às estratégias terapêuticas convencionais.

Referências:

Shima M, Amano K, Ogawa Y, Yoneyama K, Ozaki R, Kobayashi R, Sakaida E, Saito M, Okamura T, Ito T, Hattori N, Higasa S, Suzuki N, Seki Y, Nogami K. A prospective, multicenter, open-label phase III study of emicizumab prophylaxis in patients with acquired hemophilia A. J Thromb Haemost, v. 21, p. 534–545, 2023.

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