MajesTEC-1: em follow-up estendido de 30,4 meses, Teclistamabe continua demonstrando respostas profundas e duradouras em pacientes a partir de 3ª linha e em subgrupos de alto risco
O estudo MAJESTEC-1, que investigou o teclistamabe em monoterapia para pacientes com mieloma múltiplo recidivado/refratário e triplo-expostos, teve follow-up atualizado de 30 meses publicado no EHA® 2024, demonstrando respostas profundas e duradouras, sem novos eventos adversos identificados
Escrito por: Guilherme Ferreira de Britto Evangelista
Revisado por: Germano Medeiros
O tratamento padrão de mieloma múltiplo (MM) baseia-se atualmente no triplet de agentes imunomoduladores, inibidores de proteassoma e anticorpos anti-CD38. Ainda que seja uma combinação de terapias interessantes, a progressão da doença é uma realidade e a progressão após a exposição a essas classes terapêuticas torna os desfechos clínicos ruins. Frente a essa necessidade clínica, novas abordagens têm sido pensadas no intuito de atender à população de pacientes com MM recidivado/refratário (em inglês, refractory/relapsed multiple myeloma – RRMM).
O teclistamabe, anticorpo biespecífico anti-CD3 x anti-BCMA, busca viabilizar a ativação de células T, com subsequente lise das células do mieloma que expressam BCMA¹. Esse fármaco foi aprovado para o tratamento de RRMM após demonstrar respostas rápidas, profundas e duradouras em seu estudo pivotal². No EHA® 2024, o estudo MajesTEC-1 teve atualização na mediana de acompanhamento e nos resultados.
Após um acompanhamento estendido de 30,4 meses, Oriol A e demais investigadores apresentam os resultados de longo prazo do MajesTEC-1. 165 pacientes receberam teclistamabe na dose recomendada de 1,5mg/kg subcutâneo uma vez por semana (em inglês, once a week – QW). A taxa de resposta global (em inglês, overall rate response – ORR) obtida foi de 63% e essas repostas continuam a se aprofundar de modo que 46,1% dos pacientes alcançaram resposta completa ou superior, além de 85,7% dos 56 pacientes avaliados para doença residual mínima (em inglês, minimal residual disease – MRD) apresentarem MRD negativo. Nesse update, a mediana de duração de resposta (em inglês, median duration of response – mDOR) aumentou para 24 meses e as medianas de sobrevida livre de progressão (em inglês, median progression-free survival – mSLP) e sobrevida global (em inglês, median overall survival – mSG) aumentaram para 11,4 e 22,2 meses, respectivamente. Dentre os pacientes que alcançaram resposta completa ou superior, nenhuma dessas medianas foi alcançada, sendo a estimada em 30 meses de 60,8%, 61% e 74,2%, respectivamente².
Do ponto de vista de segurança, não houve aumento na taxa de descontinuação por eventos adversos, que permaneceu menor que 5% e não foram identificados novos eventos adversos 5.
Adicionando a esses resultados, Costa e demais investigadores trazem no mesmo congresso uma análise de subgrupo focada na avaliação de eficácia e segurança em pacientes com características de alto risco como estadiamento ISS (do inglês, international staging system), risco citogenético, doença extramedular entre outros³.
Nessa análise destaca-se que pacientes com idade superior a 75 anos (ORR = 54,2%), alto risco citogenético (ORR = 60,5%) e refratários a cinco medicamentos (ORR = 60%), apresentaram eficácia terapêutica similar à coorte total do estudo (ORR = 63%). Dentre os demais subgrupos de alto risco as taxas foram inferiores à coorte total. De modo similar, os subgrupos acima descritos, também apresentaram melhores taxas de resposta completa ou superior, a saber: 41,7%, 42,1% e 48%, respectivamente³.
Continuando a avaliação em linhas mais precoces, previamente publicadas na HEMO 2023 pelo Dr. Niels van de Donk4, a subpopulação tratada com teclistamabe com 3 ou menos linhas de terapia prévias trouxe neste novo acompanhamento uma mediana de sobrevida livre de progressão de 21,7 meses, com aumento interessante, quando comparada a 18 meses no acompanhamento anterior5.
Reunindo os resultados obtidos, podemos inferir que o teclistamabe segue demonstrando um perfil de resposta profundo e duradouro, mesmo na mudança da frequência da dosagem e sem novos sinais de toxicidade e redução das infecções graves². Associado a isso, essa molécula permitiu tratar determinados subgrupos de pacientes de alto risco que, historicamente, apresentavam piores prognósticos³.
* Alguns dados apresentados neste texto foram discutidos durante as apresentações de pôsteres realizadas no EHA® 2024 e, por isso, podem apresentar divergências em relação aos abstracts utilizados como referência.
Referências:
- Moreau P, Garfall AL, van de Donk NWCJ, et al. Teclistamab in Relapsed or Refractory Multiple Myeloma. New England Journal of Medicine, v. 387, n. 6, p. 495-505, 2022.
- Oriol A, Popat R, Garfall A, et al. Long-term follow-up from the phase 1/2 MAJESTEC-1 trial of teclistamab in patients with relapsed/refractory multiple myeloma. Abstract P942. Disponível em: https://s3.eu-central-1.amazonaws.com/m-anage.com.storage.eha/temp/eha24_abstract_bodies/P942.pdf . EHA® 2024.
- Costa LJ, Bahlis NJ, Usmani SZ, et al. Efficacy and safety of teclistamab in patients with relapsed/refractory multiple myeloma with high-risk features: a subgroup analysis from the phase 1/2 MAJESTEC-1 study. Abstract P923. Disponível em: https://s3.eu-central-1.amazonaws.com/m-anage.com.storage.eha/temp/eha24_abstract_bodies/P923.pdf . EHA® 2024.
- Donk, NWCJV et al. Teclistamab in relapsed or refractory multiple myeloma (RRMM): MAJESTEC-1 subgroup analysis by lines of therapies. Hematology, Transfusion and Cell Therapy, v. 45, p. S397-S398, 2023.
- Alfred L. Garfall, Ajay K. Nooka, Niels W.C.J. van de Donk,, et al. Long-term follow-up from the phase 1/2 MajesTEC-1 trial of teclistamab in patients with relapsed/refractory multiple myeloma. Abstract 7540. Disponível em: Long-term follow-up from the phase 1/2 MajesTEC-1 trial of teclistamab in patients with relapsed/refractory multiple myeloma. | Journal of Clinical Oncology (ascopubs.org) . ASCO 2024