Eficácia e segurança do esquema azacitidina associada ao venetoclax em pacientes com síndromes mielodisplásicas de alto risco

Venetoclax e azacitidina demonstram resposta significativa em síndromes mielodisplásicas de alto risco em pacientes sem tratamento prévio, sendo um tratamento promissor
Escrito por: Germano Glauber de Medeiros Lima
As síndromes mielodisplásicas (SMD) são um grupo de desordens hematológicas caracterizadas por produção inepta de células sanguíneas, resultando em anemia, leucopenia e aumento do risco de transformação em leucemia mieloide aguda. O manejo das SMD, especialmente em pacientes de alto risco, tem se mostrado desafiador, com as terapias tradicionais frequentemente resultando em respostas limitadas e desfechos insatisfatórios.
A combinação de inibidores de BCL-2, como o venetoclax, com agentes hipometilantes, como a azacitidina, tem sido explorada como uma abordagem terapêutica promissora. Estudos anteriores indicaram que essa combinação poderia melhorar a eficácia do tratamento em comparação com o uso isolado de azacitidina, oferecendo novas esperanças para pacientes com SMD em estado avançado.
O estudo apresentado teve como objetivo avaliar a eficácia e segurança da combinação de venetoclax com azacitidina em pacientes com SMD de alto risco que nunca haviam recebido tratamento. Foi realizado um ensaio clínico fase 1b/2, onde os pacientes foram tratados com venetoclax em doses escalonadas associadas a azacitidina administrada em um regime de 7 dias, com acompanhamento rigoroso dos desfechos primários, incluindo taxas de resposta e eventos adversos. O desfecho primário foi a taxa de resposta global, avaliada pela resposta hematológica e pela conversão de transfusão.
No total, 107 pacientes receberam a combinação de venetoclax e azacitidina. A melhor resposta de remissão completa (CR) ou remissão completa de medula (marrow CR) foi observada em 29,9% e 50,5% (média da taxa de resposta, 80,4%), respectivamente. A sobrevida mediana foi de 26,0 meses, com estimativas de sobrevida de 1 e 2 anos de 71,2% e 51,3%, respectivamente. Entre 59 pacientes com dependência de transfusão de hemácias e/ou plaquetas na linha de base, 24 (40,7%) alcançaram independência de transfusão durante o estudo, incluindo 11 (18,6%) em CR. Cinquenta e um (49,0%) dos 104 pacientes avaliáveis alcançaram melhora hematológica. A mediana de tempo até a nova terapia (TTNT), excluindo o transplante, foi de 13,4 meses.
A análise da segurança revelou que os eventos adversos mais frequentes foram neutropenia, infecções e fadiga, com a maioria dos eventos sendo manejáveis e não levando à interrupção do tratamento em grande parte dos casos. O perfil de segurança da combinação foi considerado favorável, especialmente em comparação com tratamentos prévios.
O estudo concluiu que a combinação de venetoclax e azacitidina apresenta uma abordagem eficaz e segura para o tratamento de pacientes com SMD de alto risco que não foram tratados anteriormente, sugerindo que essa terapia combinada pode representar uma nova opção de tratamento para esta população vulnerável. Os resultados positivos fortalecem a necessidade de ensaios adicionais para confirmar estas descobertas e estabelecer a posição desta combinação no manejo das SMD. A promessa de melhores taxas de resposta poderá impactar significativamente a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes afetados.
Referência:
1) Garcia JS, Platzbecker U, Odenike O, et al. Efficacy and safety of venetoclax plus azacitidine for patients with treatment-naive high-risk myelodysplastic syndromes. Blood. 2025;145(11):1126-1135. doi:10.1182/blood.2024025464